Quando criança, a palavra “independência” tinha gosto de aventura. Era aquela sensação de segurar a bicicleta sem rodinhas, de atravessar a rua sozinha, de não precisar de ajuda para amarrar o tênis. Crescer parecia ser isso: conquistar autonomia. Mas aí vieram as dores de adulto — as relações complicadas, o medo de errar, as expectativas dos outros — e, de repente, percebi que ser independente era muito mais profundo do que eu imaginava.

No trabalho com Constelações Familiares, aprendi que independência não é cortar vínculos, nem viver sozinho para provar força. Pelo contrário: só é verdadeiramente independente quem honra suas raízes. Quando aceitamos de coração que viemos de um pai e de uma mãe, que carregamos histórias e memórias, é como se uma energia nos sustentasse. A partir desse solo firme, conseguimos dar passos livres.

Muitos de nós vivemos presos à dependência emocional, esperando que alguém nos salve ou preencha vazios antigos. Sem perceber, cobramos do parceiro, dos filhos ou até de amigos aquilo que só nossos pais puderam dar: a vida. Isso nos mantém infantis, sem força para decidir por nós mesmos. A independência começa quando devolvemos aos outros o que não nos pertence e assumimos a nossa própria história.

Também buscamos validação como se ela fosse oxigênio. Um elogio nos anima, uma crítica nos destrói. Isso revela uma ferida: a criança que não se sentiu suficientemente vista. No campo sistêmico, quando olhamos para os pais e dizemos: “Obrigada pelo que puderam me dar”, essa ferida começa a cicatrizar. E, pouco a pouco, paramos de buscar fora o que podemos encontrar dentro: dignidade.

E aqui vem uma das maiores chaves: saber diferenciar desejo de vontade. Desejo é impulso, é prazer imediato; vontade é visão, é força de futuro. Imagine alguém que diz: “Quero emagrecer, mas desejo comer doces e massas.” Se a pessoa está presa em emaranhamentos, o desejo vence, e o doce parece irresistível. Mas quando está conectada à sua força e ao seu propósito, a vontade fala mais alto: “Quero saúde, leveza, energia. Então escolho a salada, vou para a academia, durmo cedo.” A verdadeira independência não é não sentir desejos — é não ser escravo deles.

Ser independente, no olhar sistêmico, é um ato de coragem. É pertencer ao nosso sistema familiar e, desse lugar, criar a vida que desejamos. É assumir que ninguém vai viver por nós, nem salvar nossos sonhos. Somos nós que escolhemos, a cada dia, qual história queremos escrever.

Questões para refletir

  1. Em quais áreas da minha vida ainda espero que alguém me “resgate” ou decida por mim?
  2.  ⁠De quem ainda busco aprovação para me sentir suficiente?
  3.  ⁠Minhas escolhas refletem minha vontade profunda ou meus desejos passageiros?

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