Todos nós enfrentamos momentos em que nos sentimos inseguros — não apenas física, mas emocionalmente. Talvez alguém diga algo cruel. Talvez uma situação pareça fora de controle. Talvez sejamos pressionados demais e, de repente, não estamos apenas reagindo — estamos nos protegendo.

Mas como nos protegemos?

O que acontece dentro de nós quando o mundo parece cortante e frio?

O silêncio como refúgio e prisão

É o silêncio?
Aquele em que sua voz se cala antes que o coração consiga falar.
Você se refugia no silêncio, esperando que a tempestade passe.

O silêncio pode ser um escudo, mas também uma prisão.
Ele abafa a dor, mas também enterra a verdade.

Segundo a psicologia somática, o corpo aprende a se calar para conservar energia psíquica quando sente ameaça.

Esse mecanismo de “congelamento” é tão antigo quanto o nosso sistema nervoso — uma resposta do ramo dorsal do nervo vago, que nos coloca em modo de autoproteção.

É o corpo dizendo: “fique quieto, sobreviva.”

Quando o grito se torna defesa

Ou você grita?
As palavras explodem, altas e indomáveis.

Quem grita também é protetor — grita limites para o vazio, na esperança de ser ouvido.
É cru, e às vezes funciona. Mas às vezes queima o chão sob si.

A neurociência afetiva mostra que, quando sentimos ameaça, a amígdala cerebral dispara uma resposta de luta ou fuga. O grito é essa energia primitiva que tenta restaurar o senso de poder diante do desamparo.
Ele protege — mas pode afastar.

A raiva como linguagem

Você sente a raiva crescendo?

A raiva pode ser uma espada — e, para muitos, é a única linguagem que conhecem quando o mundo os magoa com frequência. A raiva diz: “Você não vai me ferir de novo.”

Pesquisadores como Brené Brown lembram que a raiva, quando reconhecida, é uma emoção de clareza — ela sinaliza que um limite foi ultrapassado.

O perigo está em deixá-la dominar: quando não é metabolizada, a raiva se transforma em tensão, isolamento e ressentimento.

Lutar também é sobreviver

Ou talvez você lute — não apenas no sentido físico, mas com determinação.
Você reage, mantém a postura, levanta a voz, conquista espaço.

Lutar nem sempre é sobre violência — é sobre sobrevivência. É sobre coragem, tenacidade, resiliência. Às vezes, é a única coisa que impede você de desmoronar.

O psiquiatra Bessel van der Kolk, autor de O Corpo Guarda as Marcas, descreve que, quando o corpo luta, ele não está apenas reagindo ao perigo — ele está tentando restaurar a sensação de agência, a capacidade de agir sobre o próprio ambiente. É o corpo dizendo: “eu ainda posso fazer algo.”

Nos momentos de trauma, essa capacidade de ação é rompida. Ficamos congelados — o corpo paralisa, a mente se dissocia, o tempo parece suspenso. O cérebro entra em modo de sobrevivência, e a energia que antes fluía livremente se concentra em tentar nos manter vivos.

Recuperar o movimento é, muitas vezes, recuperar a dignidade.

Quando o corpo volta a se mover — quando respiramos profundamente, damos um passo à frente, estendemos a mão, caminhamos, dançamos, choramos — estamos, na verdade, reestabelecendo a ponte entre corpo e alma.

A neurociência do trauma mostra que o movimento físico ajuda o cérebro a integrar memórias fragmentadas e a liberar a energia que ficou “presa” na resposta de luta, fuga ou congelamento.

É por isso que práticas como yoga, dança, caminhada consciente, artes marciais ou constelações familiares em grupo podem ser tão transformadoras: elas não apenas aliviam, mas devolvem ao corpo a sensação de “eu posso existir e me mover com segurança no mundo.”

Mover-se é mais do que se defender. É recontar a história do corpo — agora sem medo.
É permitir que a força volte a circular — não para atacar, mas para habitar o próprio espaço com presença e dignidade.

Quem é seu protetor?

É a respiração calma que você inspira antes de reagir?
É o diário em que você escreve quando ninguém ouve?
É o amigo que te lembra quem você é quando você esquece?
Ou é um muro que você construiu há muito tempo, ainda de pé — firme, mas solitário?

Não há uma única resposta certa.

O que importa é a consciência.
Quando você entende seu protetor — como ele se manifesta, por que existe — você ganha o poder de escolhê-lo, em vez de ser governado por ele.

Porque proteção não é só defesa.
É também cuidado.

Proteção é:

  • Falar a sua verdade com gentileza.

  • Sair com paz, não com medo.

  • Deixar-se chorar quando o mundo lhe diz para ser mais forte.

  • Escolher limites em vez de batalhas.

Então, pergunto novamente:

Como você se protege?
E, mais importante:
Seu protetor ainda lhe serve — ou é hora de escolher um novo?

Sua segurança é importante.
Sua voz é importante.

Deixe que sua proteção torne-se sua cura.

Questões para refletir

1. Como o meu corpo reage quando eu me sinto ameaçado(a) ou inseguro(a)?

Perceba: ele silencia, endurece, acelera, grita, tenta fugir?
Antes de julgar a reação, apenas observe — ela é a expressão mais antiga do seu instinto de sobrevivência.
👉 Convite prático: nos próximos dias, sempre que sentir desconforto, coloque a mão no peito e respire fundo três vezes, apenas reconhecendo: “Eu estou tentando me proteger.”

2. Qual é o “protetor” que mais me acompanha hoje — e ele ainda me serve?

Pode ser o silêncio, o controle, a raiva, a distância emocional, o humor ou a rigidez.
Pergunte-se: este modo de me proteger ainda me mantém em segurança, ou apenas me mantém distante?
👉 Convite prático: escreva em um papel o nome desse protetor e, abaixo, agradeça: “Obrigada por me proteger quando eu precisei. Agora posso escolher algo novo.”

3. Como posso transformar minha proteção em cuidado — e não em defesa?

A defesa luta contra; o cuidado acolhe e integra.
O que mudaria na sua rotina se, diante de um conflito, você priorizasse o autocuidado em vez da reatividade?
👉 Convite prático: escolha uma ação concreta para esta semana — pode ser caminhar, dançar, praticar respiração, conversar com alguém de confiança ou simplesmente permitir-se sentir.

Coquetel de inspiração

DOSE DE SABEDORIA

“Os tesouros mais preciosos são guardados pelo dragão mais terrível. Para alcançá-los você terá de ir ao dragão, e beijá-lo.”

Bert Hellinger

(16/12/1925 – 19/09/2019)

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