Seja a mãe e o pai que você gostaria de ter tido.
Há uma parte de você que ainda espera, silenciosamente, ser amada.
Ela vive nas entrelinhas dos seus dias — no nó na garganta que aparece sem motivo, no medo de não ser suficiente, na vontade súbita de sumir quando o mundo parece grande demais.
Essa parte é sua criança interior.
Muitos de nós crescemos desejando o tipo de amor, segurança ou validação que nem sempre recebemos na infância.
Alguns tiveram pais presentes no corpo, mas ausentes na alma. Outros, amorosos, mas sobrecarregados pelas próprias feridas.
Talvez você tenha sido aquele que precisou ser forte cedo demais, que cuidou dos adultos quando ainda precisava brincar.
Talvez tenha aprendido que ser amado exigia esforço, silêncio ou perfeição.
Nas constelações familiares, a criança interior é o eco vivo da alma infantil que um dia precisou interromper o fluxo natural do amor.
Ela é o ponto em que o rio começou a represar.
Quando um filho toma o lugar dos pais — tentando salvá-los, agradá-los, compensá-los ou carregar o que é deles — a criança se perde de si.
E é essa perda que mais tarde chamamos de baixa autoestima, ansiedade, culpa ou medo de ser quem somos.
A boa notícia é que há um caminho de volta.
A cura começa quando você decide olhar para essa criança dentro de si, com ternura e sem julgamento.
Quando, em vez de pedir amor, você passa a oferecê-lo.
Algumas ferramentas para recomeçar o vínculo com você mesmo
1. Reconheça que sua criança interior existe
Ela aparece quando você se sente rejeitado, quando busca aprovação, quando reage com intensidade desproporcional a pequenas situações.
Em vez de reprimir, escute.
É ela dizendo: “Estou aqui, ainda preciso de você.”
2. Seja o pai que você precisava
No campo das constelações, o pai representa o mundo, o impulso para a vida.
Ser o próprio pai é dar-se permissão para ir, criar, se posicionar.
Imagine-se dizendo: “Agora eu cuido de mim. Agora eu posso seguir.”
3. Seja a mãe que você sempre quis ter
A mãe, no campo sistêmico, é o vínculo com o corpo, com o pertencimento, com o direito de existir.
Ser sua própria mãe é aprender a se acolher — não com indulgência, mas com amor.
É fazer pausas, comer com calma, dormir em paz. É se permitir ser humano.
4. Pare de se abandonar
A cada vez que você se força a agradar, ignora seus limites ou se exige perfeição, repete o abandono original.
O amor próprio nasce quando você escolhe permanecer — mesmo nas partes de si que doem.
5. Crie alegria e brincadeira
Sua criança não quer apenas ser curada. Ela quer brincar.
Quer ver você dançando na sala, rindo de si mesmo, permitindo o erro.
O riso é a respiração da alma.
6. Fale consigo mesmo de forma diferente
Troque o crítico interno por uma voz mais gentil.
Se você errar, diga: “Tudo bem, estou aprendendo.”
Essa simples frase muda a vibração do campo interno.
7. Dê a si mesmo o que nunca recebeu
Se faltou colo, ofereça presença.
Se faltou escuta, fale com o coração aberto diante do espelho.
Se faltou reconhecimento, honre suas conquistas, mesmo as pequenas.
Você pode ser o adulto que repara o que o passado não pôde dar.
Amar a si mesmo não é um destino, é um relacionamento
O amor próprio não é um ponto de chegada, é um movimento diário de pertencimento interno.
Não se trata de perfeição. Trata-se de presença.
Você não precisa se consertar para ser digno.
Você não precisa lutar por amor.
Você só precisa retornar, todos os dias, àquela criança interior e sussurrar:
“Eu te vejo. Eu te escuto. Eu te amo. E sempre amarei.”
É aí que a cura começa.
É aí que o rio volta a correr.
Nas constelações, dizemos que o amor flui quando cada um ocupa o seu lugar.
Quando o adulto cuida do adulto e a criança pode, enfim, descansar.
Você não é demais. Você não chegou atrasado.
Você é exatamente o que precisava ser para aprender a se amar de verdade.
Seja esse pai.
Seja essa mãe.
Seja esse amor.
Seja esse lar.
Porque você sempre mereceu.
E agora, enfim, pode se dar.
Questões para refletir
1. Onde, em minha história, eu ainda sou a criança esperando que alguém me salve?
Observe em quais situações você ainda busca aprovação, cuidado ou validação.
Perceba se é o adulto em você que está agindo — ou a criança que ainda espera que o amor venha de fora.
Respire e pergunte internamente: “O que essa parte de mim ainda precisa ouvir para se sentir segura comigo?”
2. Que espaço existe dentro de mim para acolher pai e mãe exatamente como foram — sem querer mudá-los?
O amor por si mesmo começa quando o amor pelos pais pode finalmente fluir, mesmo que em silêncio.
Sinta se há algo em você que ainda resiste, acusa ou se protege.
Imagine olhar para eles e dizer:
“Eu agora tomo vocês como são. E, a partir disso, tomo também a vida como ela é.”
3. O que muda na minha vida quando eu escolho ser o adulto que permanece, em vez da criança que espera?
Observe como essa decisão altera sua postura no corpo, no trabalho, nas relações.
O adulto que permanece é aquele que se torna lar para si mesmo — e, assim, deixa o amor fluir para os outros.
Pergunte-se: “O que dentro de mim precisa do meu próprio colo, hoje?”
Coquetel de inspiração

DOSE DE SABEDORIA
“Em um sábado, poucas semanas antes do meu aniversário de 92 anos, fui novamente acometido por esse sentimento. Então, Sophie me disse: ‘Venha, vamos constelar isso’. Ela e uma amiga que estava nos visitando entraram na constelação como representantes, e mais tarde fui inserido. A realidade veio à tona, e senti o grande amor que minha mãe sempre tivera por mim. Sim, esse amor sempre estivera presente, assim como meu amor por ela. Desde essa experiência, minha alma se encheu de uma paz profunda.
O que isso nos mostra?
Que até mesmo com quase 100 anos ainda permanecemos crianças; que até mesmo para um quase centenário o relacionamento com a mãe é decisivo para o bem-estar da alma. A importância da mãe para nossa vida é incrivelmente grande. Onde começa, então, nossa alegria com nosso próprio ser? Ela começa com a alegria que sentimos com nossos pais.”

Bert Hellinger
(16/12/1925 – 19/09/2019)

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